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1 de dezembro de 2010

Delirando?

Não que eu seja contra o casamento, apenas acho incoerente que as pessoas fiquem presas a uma situação insatisfatória por motivos superficiais. Geralmente palavreado inconsistente, facilmente rebatível, frases feitas especialmente para justificar ou purgar algum complexo ou culpa. Se algum sentimentalista bater seus olhinhos na palavra "incoerente", vai dizer que a vida, o mundo e os sentimentos são incoerentes. Não e não. Por quê? O que há de incoerente na vida e no mundo, regidos ambos pelas leis sensatíssimas da natureza e da física? Quer algo mais sensato e coerente do que a lei da selva, onde os mais fortes comem os mais fracos? Não é o mundo que é incoerente, nem os sentimentos. As pessoas é que o são. E precisam se justificar por isso, sei lá, é assim mesmo. O amor é assim, o amor é isso ou aquilo. Está mais do que na hora de arranjar uma palavra intermediária entre amor e apego, uma palavra elucidativa, que vai cair como uma luva na situação. Uma palavra a ser empregada lá pelos seis anos de casado, ou de noivado estendido, onde as pessoas se movem e agem com aquela sensação de que sempre estiveram ali, e por ali mesmo vão ficar, uma coisa modorrenta e preguiçosa. Vamos aproveitar a reforma da Língua e incluir essa palavra estrita logo, sem que os poetas e os cornos reparem. Eu vou dar minha contribuição cívica e sugerir um nome: chafusco. Acho chafusco uma palavra bacana.

Porque do jeito que tá não pode mais, virou baderna, vamos organizar essa suruba. Tudo é amor. Amor é a desculpa, é um achado em termos de justificativa. Tudo e nada são feitos por amor. Umazinha bem dada já é amor, um pouquinho de pena é amor, uma ligeira simpatia é amor também. Desde que o mundo é mundo, a humanidade - coisa grandiloquente de se dizer! Sempre quis escrever sobre a humanidade, me sinto Schoppenhouer agora, mas sem a veadice pessimista, claro. Aliás, sem ele todo - arruma desculpas para as coisas, desculpas boas ou ruins, sempre servindo de muletas a uma cagada aqui outra ali. Com a revolução industrial, seguida do barroco e do romantismo, o "amor"- sentimento insípido, inodoro e impalpável, como todos os demais sentimentos, tornou-se o substituto perfeito para virtudes há muito esquecidas: coragem, honra, coisas do gênero. Não existe maneira de segurar o amor dos outros, pegar na mão e apertar pra ver se escorre, ver se é assim tão pesado e incômodo, então via de regra respeita-se o que se diz a respeito de amarem ou não, até porque, mensurar o sentimento alheio além de inútil e perigoso, não leva a absolutamente nada a não ser insônia e aporrinhação. Então, da exata mesma forma que o metro - observando-se os devidos erros de mensuração de ambos, um ou dois milímetros como diz a literatura científica - o amor tornou-se ignominiosamente uma medida. E um álibi, o melhor de todos. Acredito muito em amor verdadeiro, aquele sentimento que liberta, que faz com que você queria preservar a pessoa, não atazaná-la. Só acho absurdo que qualquer ciumeira bunda hoje dia é amor. Mas, por mais que o amor seja lindo, sejamos realistas, a galera exagera. Chafusco já!

Tive um certo receio, passou rápido, mas é bom ter registro, de que passei a impressão de ser uma pessoa sem o menor resquício de ter um coração poético - bem diferente do anatômico e sanguinolento - no peito. E é meio perigoso falar mal desse lance de amor e tal, existe toda uma horda de pessoas que vivem disso, tiram seu ganha pão de romantiquices alheatórias. Definitivamente não seria bacana ser perseguida por pagodeiros, sertanejos, tietes e garotinhos de guitarra na mão. Por isso prefiro os funkeiros, que ainda que não saibam cantar, pelo menos são francos quando dizem o que pretendem fazer com a mulherada. Vamos contemporizar, então. Desculpem-me. Sou uma pessoa romântica e levemente desenvolta nas questões sentimentais e amorosas, mas sou também, e principalmente, uma pessoa razoável. Amor é uma coisinha linda, mas há que se viver com um mínimo de coerência. Nem tudo o que se pode sentir por uma pessoa - e que te impede de dar por encerrado um relacionamento ruim e deixar a outra parte viver em paz, é amor. Pode ser preguiça, pode ser costume, pode ser medo de encarar a vida de solteira de novo. Banalizaram o amor, tacaram ovo no amor.

E escreva em letras garrafais no seu espelho estas frases que vou te dizer agora: o fato desse teu passado sombrio aí, te olhando chorosa, depender de você de alguma forma, não significa que ela te ama. Não significa também que ela ainda te ama apesar dos anos e das crises, alô rapaz, você não é isso tudo. Casamento não blinda o amor e o torna indestrutível. Nada resiste ao tempo, nem as pirâmides. E finalmente, mais não menos importante, só a comodidade justifica a manutenção de um relacionamento gasto. Mas não menosprezemos a comodidade, mola e norte das atitudes sentimentais humanas; a camaleônica comodidade, que costuma aparecer travestida de amor, de pena, de compromisso e responsabilidade quando por ocasião das discussões de relação e das tomadas de decisão.

È uma tendência pavorosa das pessoas casadas começarem a usar o amor como medida monetária, o sentimento começa a ser medido em reais - ou em dólares, no caso dos milionários e famosos, não no seu ou no meu. Amores em cabanas não vingam, o amor é um sentimento muito estranho e cheio de nhé-nhé-nhém. Você até pode largar tudo e sair mundo afora com cara de beatitude, mas quando as contas começarem a chegar e o dinheiro olhar bem pra sua cara e disser tchau, a coisa bonita começa a fazer careta. Não, gente, eu não sou materialista, a culpa é toda do Fidel que não invadiu a Casa Branca enquanto era tempo, agora não adianta que tá entrevado. O mundo é materialista, não eu, eu sou sincera.

O primeiro passo, o primeiro golpe na cara do amor é a dependência, onde você cria laços com uma pessoa que não exatamente aqueles pretendidos inicialmente. Os entendidos em amor dizem, e eu acredito e pior, é verdade, que o amor só existe enquanto existe a possibilidade de escapar. Amarrando-se o amor o pobrezinho morre, é um bichinho felpudo que não sobrevive em cativeiro. Laços de dependência estabelecidos e em franco funcionamento, a coisa toda muda de figura. Estabelece-se uma relação quase trabalhista: eu fico em casa, dou cria, faço comida pra você, passo as suas roupas (porque em tese, te amo, por isso vim parar aqui), e você em troca me alimenta, me dá roupas, me paga o cabeleireiro. Pronto, cuspiram na cara do amor, duas pessoas estão agora ligadas pelos laços puídos da conveniência e da comodidade, para não ter que falar do onipresente dinheiro e ter que escutar você me acusando de capitalista.

Funcionar, funciona. Por algum tempo. Até que alguém no meio dessa embrulhada aí comece a sentir falta de amor e de suas tempestades, porque a vida humana é notoriamente chata sem confusão e atabalhoamento. O ruim é que quem geralmente começa a se incomodar é a mulher, o ser emotivo e faniquitento. Mas a mulher, de tão esquisita que é, fica incomodada e pensa: que droga, eu preciso dele para sobreviver, encostada que fiquei. Ele pode não me amar, nem eu a ele, mas o que vou fazer? Burra velha, voltar para a casa dos pais? Procurar um empreguinho de meia merreca, já que eu larguei a faculdade? Não, eu vou esperar ele chegar em casa e vou emburrar a minha cara, jogar na cara dele que ele não é mais o mesmo, e exigir alguma mudança. Mas embora eu não vou, até porque poder até posso, mas seria ruim. Então o bicho capitalista que mora em todos nós diz: e ficaria dura, com uma mão na frente e outra atrás. Tudo menos isso. Romântico, não é?

Não dá certo. Casamento, amor, companhia, filhos, lar, cachorro, tudo isso é bom pra caramba, mas é que nem leite longa vida, é só dar mole que azeda. Independência é a melhor coisa que existe, te permite ir aqui ou ali, a seu gosto, e além de tudo permite que você fique ao lado de alguém exclusivamente por amor. Quer coisa mais bacana? Sou francamente a favor da independência financeira dos cônjuges justamente para evitar o parasitismo pós separação. Sim, porque vá logo tirando da sua cabecinha oca essa coisa de Eternidade. As pessoas casam, se separam, tudo isso. Pode sim acontecer com você.

Existirá coisa mais descarada do que forçar uma pessoa a te dar dinheiro? Sim, porque não conheço homem algum que sustente mulher encostada por prazer, principalmente depois que passa a não querer mais se ver pelado em cima dela. É verdade, você sabe que é. Sem esquecer que, não fosse pelo recalque que as pessoas têm em relação a esses assuntos de Deus e de família, esse tipo de comportamento seria qualificado como extorsão, que , pelo nosso código penal, é um crime hediondo. É por essas e por outras que eu digo que essa de emancipação da mulher é lorota, mulher não quer ser livre, mulher quer ficar segura.

Mas apesar do papo ser sobre amor, o bafo da ex-mulher vem flutuando e estraga o nosso recreio. Ir embora sem tirar um tostão desse safado que me abandonou porque não me ama mais - logo eu, tão gostosa, nem faz cinco minutos que o mendigo olhou pra minha bunda? Absurdo! - não, não senhor. Acredite, ex-mulher é algo de tal maneira tenebroso e peçonhento, que ainda que ela tenha perfeitas condições de sumir no mapa e nunca mais olhar pra sua cara, ainda assim vai te querer revanche, vingança. É da natureza feminina, amigo, trocar de mulher é assim. Problema. Ainda assim ela vai te dar no saco, querendo qualquer pedacinho da sua vida que seja para que não perca o pretexto para te atazanar e chorar suas mágoas.

Por quê? Porque relacionamentos longos são confortáveis como um pufe acolchoado. Depois de certo tempo sentado ele começa a ser adaptar aos nossos contornos. Homens começam um relacionamento de maneira comumente casual. Olham pra uma mulher, acham atraente, se aproximam, beijam, pedem o telefone e a coisa vai andando. Um dia descobrem que estão namorando, e se gostam da criatura ficam por ali mesmo. É um inferno precisar dar umazinha e ter que correr atrás, é melhor ter a sua própria horta no quintal.

Las chicas no. Salvo muito poucas exceções, as mulheres ficam mundo afora paradas e arrumadinhas esperando alguém se aproximar e pedir um beijo e o nome delas. Daí, elas esperam a ligação no dia seguinte, ansiosamente. O cara liga, eles se vêm de novo, a coisa vai indo e, como ela tem um pouco de vergonha de perguntar, o estado civil muda automaticamente de "rolo" para "namoro".

E o namoro vai indo, completa um ano, dois e eis que um belo dia acontece. A crise grave, a nave mãe daquelas crises pequeninas e excitantes que o casal vinha tendo. Chegou a hora da decisão: vai ou fica? Fica. Já pensou que trabalheira começar tudo de novo? Esperar outro pretendente, aprender a lidar com ele, descobrir se ele gosta do seu cabelo ruivo ou loiro, readaptar seus contornos e rotina a outro cara totalmente novo, misterioso e desconhecido? Nada feito, está ruim mas tá bom, vamos levando. Crises acontecem. Terminar relacionamento é uma trabalheira infeliz, não vale à pena. Imagine, meu colega, essa vastidão de boas razões aplicadas a um casamento. E agora voltamos a falar de amor. Oh, sim, claro que ele existe, mas para a sua profunda desilusão, vamos conversar em termos científicos. "Amor" é um conjunto de alterações químicas no cérebro que faz com que a criatura tenha absoluto pavor de perder a outra criatura por um motivo comezinho: para criar os filhos, comumente chamado pelos etnologistas de Pair Bond, ou seja ligação entre casal.. "Amor" é um " mecanismo de co-lealdade que dura o tempo de criar os filhos ", segundo Richard Dawkins, biólogo evolucionista e um dos intelectuais mais respeitados da atualidade. Amor, quer você queira quer não, é um conjunto de alterações químicas das quais nos dotou a evolução para que nossos genes sejam seguramente passados adiante. Mas você tem que deixar de ser mané e boboca para superar essa informação. O fato de ser um processo evolucionário, natural e animalesco, não impede de ser o maior barato. Eu sei disso tudo e amo o maridão a cada dia mais, você consegue viver com essa também. Então, vamos lá com a tia. Aprendemos nesse post muitas coisas interessantes a respeito da sentimentalidade humana. Aprendemos nada, megalomania minha. Não te falei nada de novo, só falei sem rodeios sobre relacionamentos com o único - e pretensioso- intuito de acabarmos com a punhetagem metal sobre as razões sentimentais do outro lado da história, ou no português claro, não, ela não tem motivo algum pra te aporrinhar, ela aporrinha porque é chata mesmo, essa sua ex-mulher, bicho dos infernos.

Bom, não quero, nem acho, que ninguém se tornará uma pessoa fria em suas relações. Já me contento em só escrever a droga do blog, se você não quiser ler fique à vontade. Mas no caso de quem for ler mesmo, eu gostaria de frisar a clareza das coisas e das intenções, melhor dizendo, não se torne um bestalhão em matéria de romance. Ame com clareza, com força e com consciência.

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